Fies teve sua inadimplência dobrada em uma década, alcançando 62% dos contratos em atraso, enquanto o interesse pelo programa caiu drasticamente de 733 mil contratos em 2014 para 44 mil em 2023, devido a reformas que aumentaram custos mensais e requisitos para os beneficiados.
Você já parou para pensar por que a inadimplência no Fies mais que dobrou na última década? O programa que ajudava milhares a bancar a faculdade está enfrentando um declínio drástico — e a explicação envolve mudanças, números surpreendentes e um desafio social importante.
a evolução dos contratos e a alta inadimplência no fies
O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) teve um crescimento expressivo no número de contratos firmados entre 2010 e 2014, chegando a 733 mil contratos em 2014. Esse aumento rápido refletia a alta demanda por acesso ao ensino superior em instituições privadas, impulsionada pelo apoio financeiro do governo.
No entanto, a partir de então, o cenário começou a mudar drasticamente. Em 2023, o número de contratos firmados caiu para apenas 44 mil, um declínio abrupto que evidencia o menor interesse dos estudantes pelo programa.
Paralelamente, a inadimplência no Fies dobrou em uma década, atingindo 62% dos contratos em atraso em 2024, contra 31% em 2014. Esse índice recorde compromete a sustentabilidade do programa, que depende da devolução dos financiamentos pelos estudantes formados para renovar os empréstimos.
Esse crescimento da inadimplência gera um ciclo preocupante: muitos estudantes deixam de concluir seus pagamentos, acumulando dívidas, enquanto o medo do endividamento afasta novos candidatos, reduzindo o número de contratos ativos.
“Quando a dívida se torna uma sombra constante, o efeito desmotivador pode ser maior do que o próprio peso financeiro.”
Além disso, as dificuldades econômicas enfrentadas por grande parte dos beneficiados, que recebem até um salário e meio, tornam o pagamento mensal — que pode chegar a cerca de R$ 400 — insustentável para muitos.
Esse contexto expõe a necessidade urgente de reformas para equilibrar o acesso ao financiamento com a capacidade real de pagamento dos estudantes, garantindo a continuidade do programa e o acesso ao ensino superior para os que mais precisam.
impactos das reformas de 2017 no perfil dos beneficiados
As reformas implementadas em 2017 no programa Fies trouxeram mudanças significativas que impactaram diretamente o perfil dos beneficiados. Essas alterações incluíram a exigência de desempenho acadêmico para acesso ao financiamento e a cobrança de parcelas mensais durante o curso, que anteriormente eram completamente financiadas pelo governo.
Antes das reformas, o Fies financiava até 100% do curso, o que aumentava a atratividade do programa. Após as mudanças, os estudantes passaram a pagar cerca de 30% da mensalidade, incluindo taxas e seguro, o que elevou o custo mensal para uma parcela considerável do público.
Essas medidas afetaram principalmente estudantes com renda familiar de até um salário e meio, que correspondem a 91% dos beneficiados. Com mensalidades médias em torno de R$ 1.200, a parcela mensal que precisam arcar gira em torno de R$ 400, um valor pesado para essa faixa de renda.
Além disso, as regras de desempenho criaram barreiras adicionais para a obtenção e manutenção do financiamento, desencorajando muitos alunos a persistirem ou mesmo iniciarem o processo de adesão.
“Mudar o perfil dos beneficiados sem garantir condições sustentáveis para eles é como construir uma ponte que não suporta seu próprio peso.”
Como consequência, o programa viu uma queda expressiva no interesse, refletida na diminuição do número de inscritos e contratos firmados, enquanto a inadimplência atingiu níveis recordes.
A avaliação geral é de que, embora as reformas tenham tentado corrigir excessos do passado, acertaram na mão ao criar barreiras financeiras e acadêmicas que agora afastam os estudantes que mais precisam do financiamento.
desafios financeiros enfrentados pelos estudantes com baixa renda
Estudantes beneficiados pelo Fies que recebem até um salário e meio enfrentam desafios financeiros significativos. Com mensalidades em média de R$ 1.200, a cobrança de cerca de 30% desse valor durante o curso representa um peso mensal em torno de R$ 400, valor difícil de ser sustentado por grande parte desse público.
Essa parcela mensal, que inclui seguro e taxas, é uma barreira que dificulta a adesão e a manutenção do financiamento, levando muitos a desistirem ou acumularem dívidas que permanecem por anos.
Além do valor alto, essas famílias têm renda limitada para arcar com outras despesas básicas, como alimentação, transporte e moradia, o que aumenta ainda mais a pressão financeira.
O resultado é um aumento da inadimplência, que dobra em uma década, afetando não só os estudantes, mas também a sustentabilidade do programa.
“Para quem luta todos os dias para pagar o básico, uma parcela extra pode significar desistência de um sonho ou dívida para a vida toda.”
Esses obstáculos financeiros também desmotivam novos candidatos, que veem no custo mensal uma dificuldade intransponível, reduzindo o interesse pelo Fies e limitando o acesso à educação superior.
Por isso, discutir formas alternativas de cobrança e apoio financeiro é fundamental para garantir que jovens de baixa renda consigam estudar e, no futuro, contribuir para o financiamento de novas vagas.
soluções propostas para recuperar o interesse e reduzir a inadimplência
Para enfrentar a crise do Fies, o Ministério da Educação tem buscado soluções que aumentem a atratividade do programa e reduzam a inadimplência, atualmente em 62%. Uma das principais propostas é a implementação da cobrança condicionada à renda do formando.
Esse modelo permite que o pagamento das parcelas seja proporcional à capacidade financeira de cada ex-aluno. Ou seja, se ele tiver sucesso profissional e renda maior, paga mais rápido; se não, pode contar com descontos ou até perdão da dívida.
Essa alternativa está prevista na lei de 2017, mas nunca foi efetivamente aplicada e pode ser uma saída para tornar o programa mais sustentável e justo.
Outra solução discutida é a mudança do público-alvo do Fies, direcionando-o para estudantes com renda familiar acima de três salários mínimos, enquanto os que recebem renda menor seriam encaminhados para programas como o Prouni, que oferece bolsas integrais.
“Alinhar o financiamento às reais condições do estudante é fundamental para evitar dívidas impagáveis e reprovação precoce no programa.”
Além disso, o diálogo entre o MEC e as instituições de ensino tem sido intensificado para criar alternativas que possam adequar o modelo do Fies à realidade atual, incentivando mais estudantes e garantindo a continuidade do financiamento estudantil.
O aumento da inadimplência e a queda no interesse pelo Fies mostram que o programa enfrenta desafios importantes que impactam diretamente o acesso ao ensino superior para milhares de estudantes. Reformas, embora necessárias, precisam ser ajustadas para proteger os mais vulneráveis e tornar o financiamento mais justo e sustentável.
Implementar soluções que considerem a capacidade de pagamento real dos estudantes e direcionar o programa para quem realmente pode arcar com os custos são passos essenciais para a recuperação do Fies. Com diálogo, inovação e medidas eficazes, é possível garantir que o sonho da universidade continue vivo para quem mais precisa.
Enfim, repensar o modelo atual é fundamental para que o Fies cumpra seu papel social e abra portas para um futuro melhor para milhares de jovens brasileiros.